quinta-feira, 29 de março de 2012

Sobre a liberdade:


Aquele que passeia à sombra das minorias silenciosas, que obedece ao senso-comum, que diz sempre talvez, que relativiza todo e qualquer valor moral, é escravo de sua relatividade. Aquele que se diz "livre", que celebra a democracia, que crê que não tarda o mundo melhor sempre sonhado, que duvida de Deus e tem fé na política, que vigia seus pensamentos pelo termômetro do politicamente correto, que se importa com as baleias do hemisfério sul e vai ao trabalho todos os dias, não se sabe cego. Aquele que afirma tudo ver - ainda que pelas lentes da minoria silenciosa - que se limita a poucos ecos do óbvio, que acredita na TV, que lê livros de auto-ajuda, ajuda o crescimento do monstro que o engole.

Quem compra os discursos da escola, quem acredita na utopia kantiana, quem grita o grito dos excluídos, afoga-se no mar da relatividade, abraça o norte traçado pelas minorias silenciosas e faz de 1984 um ano que não terminou. Quem julga inútil a religião, quem faz da fé um ópio, tem em sua crença o alucinógeno mesmo que não lhe permite revoltar-se contra a imagem do caos à luz das minorias silenciosas que fazem sombra à liberdade da servidão.

Liberdade é escravidão, sim é não e o contrário é afirmação, o silêncio grita e a chama esfria, é ilógica a lógica reta: quando declina a razão, a miopia faz do reflexo a verdade mesma da pregação: dois e dois são cinco, tão certo quando eu sou nós, e o indivíduo, do plural função: enlaçados por inquebrantáveis nós.

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Prólogo: oração do cidadão comum:

Naquele dia, acordou com a ligeira impressão de que sua vida não passava da reprise do último capítulo da novela: os livros que lia não mais descreviam nada senão o vazio de significados no qual sua vida se transformou. Ele parou diante da tela e permaneceu ali por alguns minutos, estático e extático ante o horror de sua face mórbida diante do tempo que o visor retratava. Tudo é mesmo espelho - pensou em silêncio - e suicidou-se ao cair da tarde.

Jeferson Torres

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