domingo, 12 de setembro de 2010

Tecido em som e silêncio

 

Neste ano tenho trabalhado na montagem de conclusão do curso de bacharelado em artes cênicas da Universidade Estadual de Londrina.Ainda que o principal foco do curso seja a interpretação teatral, estudamos uma série de objetos que se interelacionam na construção do texto espetacular.A grade curricular inclui – além das disciplinas de expressão corporal e interpretação – teatro de animação, iluminação cênica, semiótica, figurino e maquiagem, cultura e sociedade e expressão sonora, entre outras.

 

Somando à minha experiência no campo da música tudo o que venho investigando no campo das artes cênicas, ative-me à música cênica do espetáculo ora em construção.Por “música cênica”, compreendo não só a música instrumental composta para o espetáculo, mas o “som da cena”.Sem desviar o assunto para questões relacionadas aos distintos caminhos pelos quais a composição musical passou até o presente, é suficiente afirmar que a “música” continua sendo um conceito bem flexível.

 

Tenho constatado como a organização sonora do espetáculo acompanha de maneira indissociável a das demais dramaturgias que compõe o texto espetacular.Julgo ser o som da cena, no nosso caso, algo que consoa com o todo da representação.Tudo isso me remete ao que Peter Brook já notara em “A porta aberta”:

 

A música no teatro (...) só existe em relação a energia do teatro.É claro que um compositor pode dar contribuições magníficas, mas só se reconhecer que deve integrar à linguagem unificada do espetáculo, e não tentando encantar os ouvidos do espectador com uma linguagem própria e autônoma.

 

De fato.A malha sonora tecida em som e silêncio, forma, com o todo, um complexo indivisível.Seria arrogância afirmar-me como o compositor do som em cena da obra que será apresentada nos próximos dias.O tecido sonoro que cobre o tempo-espaço da representação nasceu junto às dramaturgias que formam o espetáculo.O que fiz, isso sim, foi compor uma música aproveitando-me de trechos dos textos de Genet utilizados como estímulo para a criação.

O teatro é a arte do ator.Deixem-no soar pelo som-espaço-tempo !

 

BROOK,Peter.A porta aberta:reflexões sobre a interpretação e o teatro.Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,2002.3ª edição.Trad.Antônio Mercado.

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