quinta-feira, 22 de julho de 2010

Tecido no tempo-espaço:

 

Ainda nos dias atuais, quando se fala em dramaturgia, a primeira imagem que vem à mente da maioria das pessoas seja, muito provavelmente, aquela dos grandes clássicos de Shakespeare, ou então das grandes peças de Moliérè, ou, ainda, das ontológicas tragédias gregas de Ésquilo, Sófocles ou Euripedes, e também das comedias de Plauto, Terêncio ou Aristófanes, enfim: letra.

Cabe ampliar a noção de dramaturgia.Por dramaturgia, podemos entender não apenas o texto literário escrito, mas também todo o conjunto de “textos” outros que compõe a encenação.Desta forma, podemos falar em “dramaturgias”, no plural: a dramaturgia da luz, do som, do ator, e a dramaturgia do diretor.

Cada uma destas exercem um papel fundamental na construção de um discurso cênico.O pensar o texto espetacular como um complexo sígnico composto por dramaturgias diversas não constitui detrimento da importância de cada uma destas dramaturgias, mas abre espaço para a análise de um espetáculo sob uma perspectiva mais ampliada.Podemos falar em uma dramaturgia que não preze pelo estabelecimento de uma linha lógico-causal, ou mesmo que dispense o texto falado.É interessante resgatar o sentido da palavra “drama”, que, em grego significa “ação”.Vejam o que afirma Eugenio Barba quando se refere ao termo “dramaturgia” em “A arte secreta do ator”:

 

“A palavra “texto”, antes de se referir a um texto escrito ou falado, impresso ou manuscrito, significa “tecendo junto”.Neste sentido, não há representação que não tenha “texto”.Aquilo que diz respeito ao texto (a tecedura) da representação pode ser definido como “dramaturgia”, isto é, drama-ergon, isto é, o “trabalho das ações”  na representação.A maneira pela qual as ações trabalham é a trama (BARBA,1995,p.68).

 

Texto espetacular: um tecido polisíginico escrito no tempo-espaço, e, paradoxalmente, que se corroi enquanto se constroi, porque manifesto no aqui e agora.Espero que este post ajude a ampliar a noções de texto e de dramaturgia, ou, ao menos, plantar questões motoras naqueles que lerem estes rabiscos em pixel.

 

Recomendo:

 

BARBA,Eugenio & SAVAREZI, Nicola. A Arte Secreta do Ator: dicionário de Antropologia Teatral.Campinas:HUCITEC-UNICAMP,1995. Trad.Luís Otávio Burnier,Carlos Roberto Simioni, Ricardo Puccetti,Hitoshi Nomura,Márcia Strazzacappa,Walesca Silverberg e André Telles.

BARTHES,Roland.Elementos da semiologia.São Paulo:Cultrix,1972.2ª edição.Trad.Izidoro Blikstein.

GUINSBURG,Jacó (Org.).Semiologia do teatro.São Paulo:Perspectiva,1988.2a edição.

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