terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Entrevista com João Bonatte

João Bonatte, é artista natural de Tupã-SP.Mora atualmente em São Paulo.Dirigiu e atuou em diversas produções teatrais, passando até por sheakespeare, quando dirigiu o espetáculo A Tempestade, além de O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, e outras diversas montagens ao longo de 19 anos de carreira.Nessa entrevista, ele fala sobre sua maior paixão, o teatro, com sinceridade e personalidade.


Bom, vamos começar, obviamente, pelo começo. Como foi o seu começo no mundo das artes ?

Comecei meio que no "vamo que vamo", num projeto chamado A Escola Faz Teatro, na cidade de Tupã, em 1991. Na época, cursava a 8a série.Tive minha estreia na peça Dom Casmurro, de Machado de Assis, com o personagem Bentinho.Foi uma loucura aquele dia, pra quem nunca havia feito e morria de vergonha de encarar o público,acredito que fiz o que podia, e a partir dai nunca mais deixei esse lugar sagrado que chamo de palco.


E é um puta personagem esse Bentinho né cara, toda a pira dele, a certeza de que foi traído, ou a incerteza. Nessa época você já fez um trabalho de construção do personagem no sentido psicológico ?

Sim, realmente uma loucura. Pegar um personagem tão forte numa estreia no mundo do teatro foi complicado. Quanto a pesquisa... (risos).Cara, naquela época nem sabia que tinha que fazer essas coisas (...) foi no embalo mesmo, nas dicas do diretor, que na época era o senhor Bertazzoni, meu mestre nesse mundo do teatro.Foi através da experiência e das ferramentas que ele me dava que fui construindo o Bentinho.Era muito imaturo teatralmente falando, nem sabia o que estava fazendo, sabia que gostava e que queria aquilo pro resto da minha vida. Acredito que deva ter sido eu mesmo, com minhas neuras e dúvidas de um adolecente (...).

E você se lembra do pessoal que participou contigo desse projeto ? Manteve contato ? Sabe se ainda fazem teatro ?

Nunca mais tive noticias. Acredito que eu tenha sido o único que trilhou os caminhos do teatro, que segue como profissão.


Agora, conta ai algum "causo" interessante que tenha marcado a sua carreira

Tenho como base os anos de teatro infantil que tenho na bagagem. Teatro pra criança é algo que todo ator deveria fazer, pois as crianças sao sinceras naquilo que pensam, se gostam gostam, se não gostam, pulam, levantam, atrapalham, enfim...Lembro de um fato que foi muito engraçado em relaçao a dominio de plateia.Estavamos num espetáculo chamado Dona Baratinha. Um infantil. E estavamos num patio de escola, levando o teatro para dentro da escola. Éramos em três atores: eu fazia um cachorro, tinha o Dom Ratão e a Dona Baratinha. Num dado momento do espetáculo, tinha uma interação com plateia. Era o casamento da barata e a atriz pegava algumas crianças da plateia para subir ao palco.As crianças estavam tão integradas na história que a atriz caiu na burrada de perguntar quem queria subir no palco (...) ela sozinha em cena,e nós, atrás do palco ... Assim que perguntou,o palco foi invadido por umas 500 crianças, todas alvoroçadas querendo participar. O desespero foi total ...

E ai ? Pra controlar a situação ?

Tinhamos que fazer algo. O que ?Daí que veio uma ideia na cabeça: na minha bolsa tinham algumas fitas de audio,com músicas diversas.Rapidamente escolhi uma bem animada liguei o som bem alto e junto com o dom Ratão fomos num trenzinho colocando as crianças no seu devido lugar: a plateia. Criança adora brincadeira, elas embarcaram na nossa e rapidinho voltou ao normal.Mas aprendemos que com crainça temos que tomar cuidado... (risos). A atriz nunca mais perguntou quem queria participar, ia pra plateia, pegava alguns e levava pro palco,foi uma grande lição.Fazer teatro pra criança é muito bom pro ator.O adulto é mais hipocrita, digamos assim.Ele pagou, e por isso fica até o final mesmo achando uma merda o que está vendo.E tem vergonha de sair no meio do espetaculo.

E você fez mais infantil ou mais adulto até agora ?

Digamos que mais infantil, porque vivo disso, e o teatro infantil tem mais retorno, mas estive em algumas produções destinadas ao publico adulto também.Minha ultima foi o Anel de Magalão do Abreu.

E quanto ao estudo da teoria teatral ? Você lê muito a respeito de teatro ?

Cara, sim, muito (...) Desde que saí de Tupã e me enveredei por São Paulo,e com outros grupos, meu interesee, minha vontade de aprender, sempre foi muito marcante. Lia muito. Hoje, bem menos do quyea ntes, por uma série de fatores, mas sempre que posso estou a pesquisar algo. É preciso sempre buscar, coisas novas são bem-vindas. Não me prendo muito em teorias, sei alinhar o prumo, sei acentar os tijolos e arranho na teoria. Mas a teoria é extremamente importante.

Teoria é como um convite à reflexão concorda ? Você trabalha seu corpo, sua voz, e chega um teórico e diz. "Já pensou nisso antes" ?

Sim (risos), por isso que digo: alinhando a pratica com a teoria, você está a meio caminho andando de ser um bom ator.

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